Refletindo e iluminando palavras e sentimentos.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Canto das pedras

Ouço pedras
Que cantam sonhos
Em suas formas dissonantes
Gritantes e angustiantes.

Liberam seu peso
Enquanto mar
Adicionando areia
Ao seu arenoso sonhar.

Oram e oram ao tempo
No relento ao vento
Na sua eternidade de pedra.

Indiferentes ao mundo
E seus ardores laços
A pedra ao fundo
Só se rende em pedaços.

Fragmentos soltos
Que coabitam a era
Separando canteiros
Cantando primaveras.

Igual a poesia
Que pesada no peito
Transborda beleza
Enfeitando a elegia.

Pedra e melancolia
Que brotam do vento
Tocam os céus
Vestem nuvens
E viram pó.

E o vento vem
E a água leva
Transformam pedras.


Nascem em livres cachoeiras
Que vertem vida
Perdidas entre pedras
águas adormecidas.


Árias áridas
Imóveis moinhos
Matérias cálidas
Eternos caminhos.


Ouço pedras
Quando deito e ao acordar
Que renovam o leito
Do meu rio que corre pro o mar.
®IatamyraRocha

Silêncios / Efêmero 
Transparências / Palavras ao vento 




domingo, 20 de março de 2011

Pequena prosa { Reminiscências }

   Era tarde, o mundo parado só suspirava seus detalhes sutis e eu como quem não quer nada só amava um amor aprendiz, aquele pequenino sentimento que dependente do tempo crescia ou continuava mirradinho, como uma planta raquítica que nunca viu húmus na vida e vive adiando a partida, pois bem, lá estava eu aprendendo como boa aprendiz das coisas audaciosas que fazem corar a mais morena tez e umedecer o mais seco leito dos rios com águas caudalosas e tênues;Tinha onze anos recém adquiridos com direito a não querer lancheirinhas acompanhando bolo, pois já era uma mocinha e envergonhava os meus pequenos laços a despontar nas minha blusinhas Dancin Days, mas desejava ardentemente outra boneca susy de presente;Tinha a casa da minha avó como sendo um imenso território livre e uma descoberta a cada porta sorrateiramente aberta, a casa 414 de um bairro tradicional de Natal RN era uma imensa relíquia construída com muito amor pelo meu bisavô tipografo que nem teve tempo de ater aos detalhes finais da obra, pois o seu amor a profissão lhe tinha deixado doente com a tinta que tecia com tanto orgulho as palavras pioneiras de um jornal, deixando isso ao seu legado minha avó e meu avô um tipico Coronel da policia montada militar que cavalgou pelos sertões do Nordeste em caçada a um certo jagunço famoso " O Lampião ";a casa era toda em tijolos brancos e ladrilho português e o sol irradiava em todos os cômodos juntamente com o ar doce que vinha da cozinha e nos brindava a inocência,tinha amplas salas e inúmeros quartos e em cada um tendo como referência a personalidade do dono, por isso o encantamento a uma criança curiosa, adorava desvendar os mistérios do quarto de uma tia avó que me encantava com suas estantes empilhadas de livros, principalmente as que ficavam fora do meu alcançe pois se tratava de livros proibidos para uma mocinha em ambiente estritamente militar em época de plena ditadura e ainda mais pra mim se tratando de quem eu era e do que carregava em meu DNA, um sobrenome da família da minha mãe cujo pai e tios[meu avô e tios avôs]De sangue do mais puro comunismo, sangue esse jorrado e afligido em perseguições e prisões, mas isso é uma história que só agora na minha maturidade estou conhecendo e pesquisando[Pois o assunto sempre foi tabu]Para resgatar e entender um pouco de mim enredado nos passos da minha família e sua contribuição ao Brasil;Mas voltando aquele momento em frente ao alvo do meu desejo a última prateleira onde se escondia as mais belas palavras e que eu em meu infinito olhar de menina ansiava em penetrar naquele mundo tão desafiadoramente acolhedor, me sentia a própria Alice em meus devaneios infantis, só que o que eu desejava não eram mais os meus livros de cabeceira cheios de figuras e fantasias coloridas, o alvo do meu desejo era grande e sólido como um desafio, uma passagem para um novo horizonte onde eu experimentava a sensação de poder, de ser um passo adiante da minha condição de menina para poder me deslumbrar desde Eça de Queiroz em "O Primo Basilio "E suas rachaduras nos castelos do matrimonio a Jorge Amado e o seu "Capitães de areia"E sua revolta oriunda de uma sociedade hipócrita ao qual se faz presente até hoje, sem falar em José de Alencar,Shakespeare,Carlos Drummond de Andrade,Álvares de Azevedo entre outros imortais, e livros de cunho religioso como histórias de santos e vários livros psicografados por Chico Xavier;Esse era o meu recanto, subia na estante escolhia decorava exatamente o lugar na fila de livros para que não fosse descoberta e me escondia atrás do piano, para que entre o soar das notas e as palavras, os momentos de solidão e prazer se multiplicassem em anos, como se a melodia sincronizasse o meu tempo e eu parada no tempo me descobrisse crescendo junto ao meu conhecimento, ao som de Shubert com uma sonata entusiasta e o meu sorriso de prazer em frente a uma próxima página.
®IatamyraRocha




quarta-feira, 16 de março de 2011

Amor de filme

Veja essa imagem em movimento aqui : Nuances poéticos

Nas águas da paixão
Sinto teu amor pulsar
Quando te beijo e te sinto
Dentro do meu olhar.

Te quero tanto aqui
Que meu sonho chega a doer
Sei que te amo em infinito
E não consigo te esquecer.

Sei que o tempo passou
E as flores murcharam
Mas você é meu amor
E isso pra mim é muito claro.

Meus passos agora são sombras
Meus laços desatam em nós
Não posso mudar o que sinto
E o que perdi, grito em meus lençóis.
®IatamyraRocha




segunda-feira, 14 de março de 2011

SINTOmático / Afago na poesia

"A poesia reveste a alma...Num impulso instante...Aquece e acalma."
®IatamyraRocha
Poetas de hoje :
Elisa lucinda
O poema do semelhante

O Deus da parecença
que nos costura em igualdade
que no papel-carboniza
em sentimento
que nos pluraliza
que nos banaliza
por baixo e por dentro,
foi esse Deus que deu
destino aos meus versos.


Foi ele que arrancou dele
a roupa de individuo
e deu-lhes outra de individuo
ainda maior, embora mais justa.

Me assusta e acalma
ser portadora de várias almas
de um só som comum eco
ser reberberante
espelho, semelhante
ser a boca
ser a dona da palavra sem dono
de tanto dono que tem.


Esse Deus sabe que alguem é apenas
o singular da palavra multidão
eh mundão 
todo mundo beija
todo mundo almeja
todo mundo deseja
toda mundo chora
alguns por dentro
alguns por fora
alguém sempre chega
alguém sempre demora.


O Deus que cuida do
Não-desperdicio dos poetas
deu-me essa festa
de similititude
bateu-me no peito do meu amigo
escostou-me a ele
em atitudes de verso beijo e umbigo,
extirpou de mim o exclusivo :
a solidão da bravura
a solidão do medo
a solidão da usura
a solidão sa coragem
a solidão da bobagem
a solidão da virtude
a solidão da viagem
a solidão do erro
a solidão do sexo
a solidão do zelo
a solidão do nexo.


O Deus soprador de carmas
deu de eu ser parecida
Aparecida
santa
puta
criança
deu de me fazer
diferente
pra que eu provasse
da alegria
de ser igual a toda gente.


Esse Deus deu coletivo
ao meu particular
sem eu nem reclamar
foi ele, o Deus da par-essência
o Deus da essência par.


Não fosse a inteligência
da semelhança
seria só o meu amor
seria só a minha dor
bobinha e sem bonança
seria sozinha minha esperança.
[Madrugada onde fui acordada pelo poema no Rio de janeiro, 10 de juho de 1994]
Poema tirado daqui 

Ferreira Gullar
Traduzir-se
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte se espanta.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte
é linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
-que é uma questão
de vida ou morte-
será arte ?

Sintomático

O desejo me pluraliza
Veste-me de medos
A inspiração me paralisa
Recebe meus pedaços
lidos no calor das entranhas
Eclode em abraços
Despeja seu gozo, arranha
No versar dos seus laços
Me desnuda a alma
Na sua água me batiza
Banha-me com calma
E me toca em palavras precisas
Ardentemente indecentes
Com puro rimar de prazer
A poesia me rouba
Desbota, aporta
E me faz amanhecer.
®IatamyraRocha

Continua aqui 





 

 
 











  

segunda-feira, 7 de março de 2011

Segredos e canções

Guarda pra mim
Tua canção mais doce
Teus olhos de janela
Ao brilhar com o sol.

Minha certeza de porto
Tua voz que distrai minha saudade
O calor dos teus braços
Nos meus dias de tempestade.

Guarda pra mim, meu eu
Decifrado em teus beijos
Que em mim, é tão teu
Como o amor em minha poesia.

Só guarda pra mim
Naquela gaveta trancada
Onde só você tem o segredo
E a chave que fecha meus medos.


Guarda também teu sorriso de menino
Ao me despir como um presente
Guarda só o teu amor
Quando em corpo eu me fizer ausente.
Iatamyra Rocha


P.S : Eu te amo


Currente Calamo/Palavras ao vento





terça-feira, 1 de março de 2011

Pequeno conto de encontro

       O tempo estava morno, como a pele sem esperança de Lia, e ela buscava em cada contorno de nua nova existência uma certeza que lhe removesse a apatia, grandes eram os planos suspirados por seus pais, que ao pisar nos ladrilhos da facul, ela tinha a impressão de ouvir a voz de sua mãe entoada de zelos e a do seu pai firme e determinada, mas isso já faz algum tempo, ficou perdido na caixinha cor de rosa da sua memória, agora a realidade cheia de esporas é que lhe dá o tom; viver longe do ninho faz com que cada minuto seja uma banca de exame final e disso depende sua sobrevivência.
       Lia caminha de encontro a sua milésima entrevista de emprego, vestiu aquele terninho cor de âmbar companheiro de todos os percalços lacrimosos de suas tentativas gritantes, a bolsa que o curso lhe pagava ficava muito abaixo do custo que era se manter na cidade grande, como se até o ar poluído da metrópole lhe cobrasse para respirar, e ainda tinha as aulas do curso de teatro, sonho antigo totalmente alheio as vontades dos seus pais, um curso secreto dentro de sua outra vida que eram só sorrisos e nuvens azuis.
       Entre sirenes, buzinas e o murmurar da multidão, Lia vê ao longe como quase engolida por dois espigões luxuosos com seus vidros que parecem cristais, uma casinha de madeira simples como as choupanas de sua cidade natal, adornada por lindos canteiros de gerânios e um beija flor incansável e encantado, de flor em flor a beijar e se alimentar com o néctar do seu oasis, de repente ela sente uma força e um brilho de certeza na pureza da vida que se revela nas entrelinhas do seu quadro de visão perfeito, lhe dando o recado de que tudo na vida é uma questão de respeito e cuidado, e o tempo se constrói pouco a pouco, passo a passo e na frente a vida sempre espera com um terno abraço.
®IatamyraRocha

Rascunhos/ Palavras ao vento